“Não somos livres para escapar das consequências de nossas escolhas”, exorta padre Xavier
Quaresma não é tempo de mudar apenas aquilo que é mais grave em nós, mas também de crescer na fé e no amor. Essa é a conversão verdadeira: ser melhor para Deus. Desse modo, seremos melhores para o outro também.
Ouvimos, na primeira leitura, algo muito importante: Deus nos concede a liberdade de aceitarmos algo ou não, de fazermos escolhas. Somos sempre livres e isso é bom, mas isso sempre nos impõe uma responsabilidade muito grande, pois temos que fazer escolhas, e até o fato de deixarmos de escolher já é escolher algo.
Não somos livres para escapar das consequências de nossas escolhas. O discurso da primeira leitura de hoje é o discurso de quando Moisés está prestes a entrar na Terra Prometida. Ele diz: “Escolhe, pois, entre a vida e a morte. Escolhe, pois, a vida”. Escolher pela vida quer dizer escolher pelos preceitos de Deus. Se você escolhe o que o Senhor diz, escolheu a vida.
As consequências de nossas escolhas nos trazem vida ou morte. Quando escolho algo, escolho tudo o que tem entorno; é como alguém que, quando se casa, o faz também com o sogro, a sogra, os cunhados… Pegou uma coisa, pegou tudo. É exatamente assim em todos os momentos de nossa vida. As nossas escolhas terão consequências no futuro.
Nossas escolhas nem sempre são definitivas, podemos voltar e corrigir. A proposta da Quaresma é exatamente essa: quando cometemos grandes pecados, grandes erros, podemos corrigi-los. Não existe ninguém perdido para sempre, mesmo as pessoas que estão afundadas na vida, em situações que só trazem sofrimentos, podem sair delas. Ninguém, nem o demônio, é capaz de tirar a nossa liberdade.
É importante termos uma visão do que queremos, buscarmos motivos para fazer nossas escolhas. Para alguns casais, o namoro, o noivado e o início do casamento eram uma perfeição! Mas com o passar do tempo, começaram a surgir os conflitos e o casal começa a desconfiar que se casou com a pessoa errada. Então, alimenta-se dessa ideia e rapidamente se separa. Não podemos ser assim.
Há casos em que a pessoa quis dar o melhor para a família, por isso começou a trabalhar e trabalhar, mas chegava em casa cansado e só brigava. Logo, os filhos deduzem que o pai não os ama, pois só chega em casa para brigar.
Proponho que a Quaresma seja feita de penitências que realmente mudem nossa casa. Por exemplo, a esposa parar de reclamar, o esposo ficar mais em casa… Enfim, mudar o nosso coração. Nós não somos pecado ou falta de pecado, somos muito mais que isso.
Quaresma é tempo também de repensar a vida. Como as nossas atitudes afetam os outros? Nossos gostos e o que queremos fazer ajuda, realmente, aquele que está ao nosso lado?
Se quisermos escolher pela vida, teremos de escolher as outras coisas que estão em volta. Precisamos, como São Paulo nos diz, nos alimentarmos de coisas nobres; não nos encher de pensamentos que nos aprisionam. Se você pensa que alguém não vai com a sua cara, pergunte o por quê!
Deus que nos garante a liberdade e é misericordioso conosco, Ele quer transformar nosso coração para que sejamos instrumento de misericórdia. O Senhor sabe de tudo, está, inclusive, nos vendo agora. Ninguém conhece alguém inteiramente senão Ele; porém, precisamos nos esforçar, ao menos, para conhecer um pouco o outro e compreender as atitudes dele.
Dentro de nossa casa devemos oferecer sempre o perdão aos outros. A capacidade de perdoar é o termômetro do amor que sentimos pelo outro.
Que tenhamos a coragem de abrir o nosso coração para Deus, a fim de que Ele ilumine em nós as áreas mais escondidas para despontarmos na bondade.
Felicidade não é uma simples escolha, mas uma vida trilhada no caminho para a felicidade. Se você quer, realmente, trilhar um caminho mais profundo, além de crescer nas coisas boas, é preciso mudar aquilo que não é tão bom assim.
Se quisermos salvar nossa alma, temos de ceder. E só cedemos quando sabemos que aquilo é a vontade de Deus para nós. Peçamos a Ele a graça de escolhermos a vida.
Transcrição e adaptação: Rogéria Nair